Enquanto a região Norte do Estado vê disparar o número de infectados e de mortes por Covid-19, Bagé - que já ocupou a segunda colocação em total de casos no Rio Grande do Sul - completou 11 dias sem nenhum teste positivo para o novo coronavírus. Seguem 29 casos confirmados. E mais: até agora nenhum óbito foi registrado na Rainha da Fronteira. O cenário favorável, entretanto, não adia a criação de novas medidas preventivas.

Comércio voltou a funcionar no dia 16, mas em turno único (Foto: Divulgação - DP)

O chamado Cinturão de Monitoramento foi lançado esta semana, em coletiva à imprensa. Duas ações principais passam a ser implementadas: vacinação dos trabalhadores do comércio e controle do estado gripal da população. As doses já começaram a ser aplicadas ao novo público-alvo; até o início da tarde de segunda, em torno de 500 profissionais tinham recebido a imunização contra a gripe. O acompanhamento telefônico dos pacientes que procurarem a rede básica com sintomas gripais também está instituído.

A decisão se justifica. Afora a particularidade do momento, as estatísticas confirmam que 91,5% dos moradores de Bagé utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS). Manter contato com todas as pessoas que procurarem a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou uma das 26 Unidades Básicas de Saúde (UBSs), principalmente, com problemas respiratórios, torna-se mais uma medida de controle que vem reforçar a orientação de distanciamento social. Afinal, a recomendação de que a comunidade permaneça em casa segue em alta.

“Conseguimos transformar o quadro negativo em um saldo positivo devido a uma série de medidas adotadas com agilidade”, destaca o prefeito Divaldo Lara (PTB). E sustenta: os 26 dias de isolamento domiciliar, inclusive com toque de recolher e fiscalização para ninguém circular pela cidade após as 22h, foram essenciais para o resultado. “Gostem ou não, crentes ou descrentes sobre a validade desta medida, temos convicção que esta é a grande ferramenta, tanto que até os casos de gripe foram reduzidos no município neste período”. 

Expectativa para os próximos dias 

Retomada das barreiras sanitárias
Tratativas com equipes do Exército devem garantir a realização da segunda etapa das barreiras sanitárias, que chegou a ser anunciada para a semana passada. A expectativa é de que todos os veículos de passeio, além de ônibus e de caminhões, passem pelo processo de desinfecção, para tentar barrar a circulação do vírus. Na primeira fase, no começo do mês de abril, mais de 22 mil veículos foram desinfectados, ao cruzarem as barreiras montadas em três pontos de acesso a Bagé.

Lojas abertas também pela manhã?
A hipótese está em estudo, mas a decisão está diretamente atrelada aos indicadores da Covid-19. Uma posição deve ser tomada até o final deste mês. Desde o dia 16 de abril, o comércio voltou a funcionar, mas em turno único: das 13h às 18h30min. Além de uma cartilha com regras a serem cumpridas pelos estabelecimentos - como o limite de um cliente a cada dois metros quadrados do espaço disponível para compra e venda -, 71 agentes de saúde equipados com macacões químicos circulam pela área Central, para fiscalizar a conduta tanto dos lojistas quanto dos consumidores. Para entrar nos estabelecimentos, o uso de máscara é obrigatório. Outros 31 agentes sanitários circulam pela cidade, em reforço ao serviço de fiscalização. Até o final da manhã desta terça-feira (28), pelo menos dez autos de infração tinham sido expedidos. Em caso de reincidência, o ponto comercial pode ser interditado pelo período de 30 dias.

Pesquisa epidemiológica e testes rápidos
Dados da prevalência da Covid-19 gerados em estudo que tem parceria da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) ajudarão a embasar as próximas definições tomadas pelo Poder Público. A aplicação de aproximadamente 2,7 mil testes rápidos também vai contribuir na verificação do cenário real, para reduzir as subnotificações da doença; algo que ocorre em todo o país.

Hospital de Campanha segue pronto e sem uso

A estrutura com 50 leitos, montada no Ginásio Corujão, em parceria com a Universidade da Região da Campanha (Urcamp) e com o Exército, segue pronta e sem uso. Ao todo, Bagé possui 127 leitos clínicos de prontidão para receber pacientes de novo coronavírus. De Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) são outras 25 vagas e somente uma está ocupada. O paciente, entretanto, tem quadro estável e não faz uso de respirador.

“Hoje sabemos que se o caso zero tivesse ocorrido em um culto, uma escola ou um bar, o processo teria sido muito mais silencioso. Mais difícil”, afirma o secretário de Saúde, Mário Mena. O susto daquele 18 de março, quando confirmado que o primeiro caso era de um médico da Santa Casa que havia viajado ao Rio de Janeiro e retornou assintomático, acabou por permitir o mapeamento de todas as pessoas com quem ele havia tido contato e determinar o isolamento imediato do grupo. Na sequência, a transmissão comunitária - em que não se consegue apontar a linha de contágio - também foi registrada em Bagé.

Lazer e ensino sem previsão de retorno

As atividades de lazer e ensino permanecem seguem sem qualquer perspectiva de retorno - adianta o prefeito Divaldo Lara. Pela lista de prioridades, preservação da saúde, ação social e economia ficam no centro do debate. Eventos, jogos, cultos religiosos e aulas, que provocariam aglomerações, não podem ser realizados no momento até que se identifique com detalhes a circulação do novo coronavírus na cidade, na região e no Estado. 

Números de Bagé

Casos confirmados: 29
Pacientes recuperados: 27
Resultados negativos: 140
Suspeitos: 6
Mortes: 0